História da Hipnose


Primórdios



A história da hipnose remete a tempos e civilizações bem antigas, alguns historiadores acreditam nos relatos de que algumas aldeias indígenas na austrália já utilizavam a prática, nesse tempo ainda muito rudimentar a hipnose era utilizada como forma de ascensão espiritual e tratamento de 'doenças da alma' como eram chamadas as enfermidades da psique. Há também relatos da hipnose sendo praticada por xamãs nas regiões da ásia e Europa, mais precisamente no norte. O termo 'Xamanismo' que conhecemos atualmente, é derivado da língua tungue, dialeto tribal falado na Sibéria. E o Xamanismo define a personalidade do xamã, que é qualquer pessoa que acredita que ela cura através da manipulação do poder dos espíritos, usando técnicas de transe. O termo pode ser útil porque descreve uma posição social comum a muitas culturas em todo o mundo, da Ásia para a África, e para as Américas. 

Gerald Kein afirma:

"Hypnosis is the old profession in the world"

"(A hipnose é a profissão mais antiga do mundo)"

Não só no xamanismo e tribos indígenas se deram seu começo, há provas de que voltando ao tempo da antiga Grécia e Roma existiam lugares chamados de Templos do sono, onde pessoas o frequentavam afim de tratar seus problemas e suas doenças. A População ia aos templos do sono e se deitavam em grandes mesas de madeira ou mármore, após entrarem em transe (Geralmente causado por alguns movimentos de mãos) ouviam os sermões dos sacerdotes desta deusa que diziam ter poderes curativos, após o procedimento os enfermos retornavam às suas atividades gozando de plena saúde e alegria.

Na sociedade Egípcia (milhares de anos antes de Cristo) utilizava-se a hipnose nos mesmos templos do sono, as doenças eram tratadas após o paciente ser submetido ao transe hipnótico; existem provas arqueológicas de tal prática como vasos de cerâmica onde aparecem figuras de médicos fazendo intervenções cirúrgicas de grande porte, o que sabemos ser muito difícil, pois a anestesia não era conhecida. Também é sabido de práticas como essas na China, Índia e Pérsia.

No século XVI Paracelsus, pai da medicina hermética, acreditava na influência magnética das estrelas na cura de pessoas doentes, vindo a confeccionar talismãs com inscrições planetárias e zodiacais. A hipnose utilizada na antiguidade era impregnada de magia, misticismo e religiosidade com objetivos de cura através da imaginação, profecias, captação de ideias e mensagens dos deuses. Utilizava-se induções hipnóticas individuais ou em grupos, através de danças, cantos, orações, rituais e palavras. (Carvalho, 1999).
Gerald Kein ainda completa:

"This sort of culture and behavior can be observed nowadays in africa for example, not a priest but a african witcher would do it. In middle age was considered evil and not a power of cure, Catholic priests demonized the hypnosis training transforming it into a diabolic knowledge."

"(Esse tipo de cultura e comportamento poe ser observado nos dias de hoje na áfrica por exemplo, não um padre, mas um feiticeiro africano realiza o procedimento. Na idade média foi considerado como mau e não como um poder de cura, Padres católicos demonizaram o treinamento da hypnose transformando-a num conhecimento 'diabólico')."


Franz Mesmer


Franz Anton Mesmer (1734-1815), médico austríaco do século XVIII, que iniciou seus estudos interessado no magnetismo animal que seria responsável pela cura de dores e doenças. Após sua mudança para Paris, seu trabalho foi foco de muita atenção pelo meio científico, onde Mesmer acreditava na influência dos corpos celestes na cura das doenças e na presença de um fluido universal ligando astros e corpos. Esse fluido magnético era captado e emitido por ferro imantado e a pessoa imantada transferia energia para os demais. Mais tarde, ele percebeu que o próprio homem captava energia e passou a falar em magnetismo humano, realizando várias cirurgias e anestesias sobre o sono mesmérico, desenvolvendo-se a partir daí a expressão Mesmerismo. O trabalho de Mesmer teve grande repercussão no meio científico e acadêmico, embora tenha tido sucessos e fracassos em suas curas. Os acadêmicos de Medicina, como maior ciência oficial da época, pressionaram o então rei Luíz XVI, a convocar a “Comissão da Sociedade Real de Medicina e da Academia de Ciências – 1784”, composta pelos mais renomados cientistas da época, para estudar o fenômeno hipnótico. A Comissão Julgadora trabalhou realizando experimentos com diferentes materiais, concluindo a inexistência do magnetismo humano e afirmando que os resultados obtidos eram somente consequência da imaginação. Mesmer caiu em descrédito no meio científico, mas suas teorias e métodos continuaram a ser empregados por seus seguidores, como o Marquês de Puységur e Abade Faria e muito depois James Brade. [Carvalho(1999) e Rossi & Cheek (1988).]

Gerald Kein nos complementa a história no trecho em que conta de sua clínica:

"Doctor Mesmer had this big waiting room on his lab, he always cured people from physical or mental deseases in due to his medicine experience. In this waiting room he would tell to those people waiting to pass some magnets through their body and using suggestionability and expectation people were being cured even before he got to check on them. People were scratching magnets through their illness and they were being healed. Why? Becouse what the mind expects to happen tends to be realized."

"(Doutor Mesmer Costumava ter essa grande sala de espera em seu consultório, ele sempre curava pessoas de doenças mentais e físicas graças a sua formação em medicina. Em sua sala de espera ele dizia as pessoas para passarem alguns ímãs em seus corpos e usando sugestionabilidade e expectativa pessoas eram curadas mesmo antes de ele as atender. Pessoas estavam esfregando ímãs em suas enfermidades e estavam sendo curadas. Porque? Por que o que a mente espera acontecer, tende a acontecer.)"


James Braid


Somente no século XIX que o médico inglês James Braid (1795-1859), assistindo a uma cirurgia efetuada por Mesmer com anestesia geral provocada pelo uso da hipnose, passou a estudar o processo vindo a reformular a teoria de Mesmer. Braid definiu o estado hipnótico como um estado particular de “sono do sistema nervoso”, vindo a cunhar o termo hipnose, do grego Hypnos que simbolizava o Deus do sono na Mitologia Grega. Dessa forma, o termo hipnose ficou erroneamente associada a ideia de sono. Logo depois de haver cunhado este termo, James Braid se arrependeu pois percebeu que cientificamente a hipnose não poderia ser comparada ao sono, sendo um estado justamente oposto ao sono, de intensa atividade psíquica e mental. Braid utilizava basicamente a hipnose como forma de se obter a anestesia cirúrgica e para ensinar auto-hipnose aos pacientes, lembrando que o éter foi introduzido somente 1846 e o clorofórmio em 1847 sendo impossível antes disso uma anestesia forte suficiente para procedimentos cirúrgicos.

Gerald Kein ainda complementa na história do surgimento do nome:

"Years after doctor Braid studies, he figured out Hypnosis wasn´t about a sleeping stage, he tried to change the name of it but it was already popular in those days. He would've called it 'Monoidealism' suggesting people in this stage were extremely focused in only one idea, he named after 'mono'."

"(Anos depois dos estudos do Doutor Braid, ele veio a descobrir que hipnose não era sobre um estágio do sono, ele ainda tentou mudar o nome dele mas  era tarde demais e já havia se tornado popular. Ele chamaria então de 'Monoidealismo' inferindo que as pessoas nesse estágio estavam extremamente focadas em apenas uma ideia, daí o nome 'mono'.)"


Charcot e a Escola de Salpêtrière


Durante muitos anos a hipnose foi esquecida e mal interpretada por não se compreender na época a natureza e dinâmica dos seus fenômenos. Ela foi resgatada na França por duas importantes escolas de pensamento que possuíam visões muito distintas sob o fenômeno da hipnose: a escola de Salpêtrière, liderada por Jean-Martin Charcot (1835-1893) e a escola de Nancy, comandada por Auguste A. Liebeault (1823-1904) e Hipolyte Bernheim (1840-19191). A escola de Salpêtrière tinha como líder Charcot, o neurologista mais importante e conceituado da época, o qual estava estudando os estados hipnóticos para tratamento de pacientes histéricos. Em um trabalho apresentado em 1882, na Academia Francesa de Ciências, Charcot considerou a hipnose como um estado patológico de dissociação, comparando o transe ao processo histérico e a anormalidades no sistema nervoso. Diferentemente da escola de Salpêtriere, a Escola de Nancy de Liébeault e Bernheim do século XIX, também estudava a hipnose e seus fenômenos por mais de 100 anos conforme descritos por Braid, pensando a hipnose como um estado de consciência normal e natural do ser humano, tendo um ponto de vista muito distinto de Charcot. Liebeault e Bernheim retomaram a ideia original de Braid de que a indução hipnótica decorria da sugestão, realizando inúmeros estudos e experimentações científicas.

Charcot também teve grande participação nas pesquisas de Freud sobre hipnose. Freud viajou para a academia de Salpêtrière onde aprendeu por um período de tempo curto as características do processo hipnótico e seus métodos de transe, também presenciou um dos famosos métodos de indução conhecidos até hoje chamado de Toque de Charcot onde o paciente era posto em uma expectativa inicial com uma conversa curta e logo em seguida um estímulo físico era dado a ele, nesse caso Charcot empurrava a pessoa de forma suave com as mãos nas regiões da testa, tronco ou busto, logo a pessoa automaticamente se encontrava em transe hipnótico. Freud partilharia logo depois sua pesquisa com Breuer onde os dois juntos realizariam a aplicação do medo Hipnótico, muito tempo depois culminando no desinteresse de Freud pela hipnose com a ascensão do método psicanalítico.

Em 1889, Charcot organizou o I Congresso Internacional de Hipnotismo Experimental e Terapêutico em que contou com a presença do psicólogo americano William James, o criminalista italiano Lombroso e o jovem psiquiatra Sigmund Freud (Que já havia aprendido os princípios de Hipnose com Charcot). Livros passaram a ser escritos e revistas científicas começaram a publicar artigos sobre hipnose. William James incluiu um capítulo sobre hipnose em seu livro Princípios de Psicologia, e Wilhelm Wundt, considerado o pai da Psicologia como Ciência, escreveu um livro sobre hipnose.


Era Pré-Contemporânea

Hipnose foi usada em guerras para tratar alguns ferimentos, certamente com relatos do exército dos Estados unidos tanto quanto os exércitos da Alemanha, França e Inglaterra. Na segunda guerra mundial os Estados Unidos já eram especialistas em hipnoterapia e utilizava o tratamento em soldados, com especialistas eles faziam os soldados  acreditarem por sugestão que eles não estavam sentindo dores. Há relatos de que alguns comandantes ordenavam que os mesmos Hipnoterapeutas fizessem com que os soldados acreditassem através do método que ainda tinham o membro que fora perdido nos campos e nas trincheiras (Braços e Pernas).

Em 1958 A associação de medicina dos Estados Unidos declarou e reconheceu a Hipnose como sendo uma das alternativas de tratamento para algumas doenças e como anestesia em algumas cirurgias, a partir daí a corrida por pesquisa científica na área se estabeleceu formando uma cadeia de psiquiatras e psicólogos que tiveram seus livros publicados.

Em 1959 o papa deu uma entrevista em que questionou a todas as mulheres do mundo o porque delas ainda não usarem Hipnose como  como cirurgia em partos normais e cesarianas. (Hoje em dia em algumas partes do Brasil e nos Estados Unidos a Hipnose é aceita como forma de anestesia em cirurgias e em partos.)


Hipnose Moderna

A psicoterapia na atualidade converge para a ideia de atingir profundas mudanças e autoconhecimento, de uma maneira estratégica e com diferentes instrumentos, levando a mudanças mais rápidas e de melhor prognóstico, em comparação a como era, e como ainda é, para muitos. Há, nesse momento, a quebra de que para a psicoterapia ser boa, ela deva ser longa, a resposta melhor talvez fosse: ela deve ser baseada num diagnóstico eficiente, com uma saudável meta e uma boa estratégia adaptada ao paciente.

Nomes da Hipnoterapia se fazem presentes no nosso dia a dia sendo considerados os melhores Hipnoterapeutas do mundo, são eles: Milton Erickson e Gerald Kein.

 (Erickson)

(Kein)

Tais nomes contribuíram para a propagação do método da Hipnoterapia através do mundo, apesarem de serem de correntes diferentes ambos criaram organizações responsáveis para a formação de futuros Hipnólogos e Hipnoterapeutas com certificados e responsáveis por oferecer um tratamento rápido e de qualidade. 

Milton Erickson foi o pai da hipnose moderna, desenvolveu uma Hipnoterapia com diversas definições, principalmente devido as diferentes fases que viveu, onde até a década de 60. Ele procurou utilizar vários dos conceitos psicanalíticos para uso e compreensão da hipnose. Nas últimas duas décadas da sua vida desenvolveu uma abordagem de compreensão do ser humano. Ela continha um vocabulário e técnicas como: inconsciente sábio, recursos para superação dos problemas, aprendizagens automatizadas, transe. E mais ainda: técnica de confusão, sugestões indiretas, mente consciente e mente inconsciente, utilização de anedotas, metáforas e tarefas.

Já Gerald Kein foi criador da Omni Hypnosis Training Center, uma escola que forma Hipnólogos e Hipnoterapeutas. Dentre suas conquistas estão o desenvolvimento de métodos mais eficazes de tratamento e com resultados que não só afetam a experiencia do paciente com a hipnose mas com a vida e o modo como o paciente lida com o cotidiano após a terapia. Ele foi um dos grandes percursores do método de formação de induções instantâneas e também foi o aperfeiçoador do métodos de indução por extremo relaxamento. Foi o criador e o pesquisador no estado de transe chamado 'Coma State' ou 'Estado de Coma' e também foi pioneiro no estágio chamado  'Ultra Death Stage' ou 'Estágio de Semi-Morte'.

Hollywood teve papel importante na demonização e da má compreensão da hipnose em tempos modernos, com filmes que inferiam a hipnose como forma de manipulação e controle da mente humana. Arquétipos como relógios e pêndulos foram difundidos de forma não erudita dentro do cotidiano contribuindo para a rejeição da maior parte da população global; Não só isso como os famosos e conhecidos Hipnólogos de palco que dentre suas façanhas punham pessoas para imitarem galinhas, cachorros e animais selvagens; não que esse tipo de prática seja infundada ou falaciosa mas garantiu com contribuição para uma conscientização negativa das pessoas sobre o método da hipnose e da hipnoterapia.

Como diz Gerald Kein:

"People have prejudice nowadays 'cause they don't have enough knoledge about this, so they'd say: 'Don't do this to me, you're trying to manipulate me'. As we all know people are afraid of what they don't know, we have this negative notation but it's our job to break through this steriotypes and get people to know Hipnosis"

"(As pessoas tem preconceito nos dias de hoje, pois elas não tem conhecimento suficiente sobre o processo, eles dizem: 'Não faça isso comigo, você está tentando me manipular.' Como mesmo sabemos, pessoas tem medo daquilo que não conhecem, nós temos essa imagem e essa conotação negativa mas é nosso trabalho romper com esses esteriótipos e fazer as pessoas conhecerem a hipnose.)"

Portanto, a hipnose como qualquer outra ciência moderna rompeu com inúmeros preconceitos e se posiciona hoje como uma das terapias mais eficazes do mundo moderno, a hipnose como forma de ajuda para o humano deve ser considerada e vista com um olhar crítico e não transformada e demonizada por tragédias Hollywoodianas e esteriótipos religiosos de magia e bruxaria. O Enaltecimento dessa ciência se dá não só pela eficácia, mas pelo desejo contínuo de restabelecer o humano como humano e não como produto de seu próprio trauma.


Dados e Curiosidades

Dr. Alfred A. Barrios efectuou uma pesquisa sobre as psicoterapias onde concluiu  que: 

*93% dos clientes se recuperam após 6 sessões de hipnoterapia. (1,5 mês)
*72% dos clientes se recuperam após 22 sessões de terapia comportamental (6 meses)
*38% dos clientes se recuperam após 600 sessões de psicanálise (11 anos)

A Hipnoterapia não só faz o trabalho mais rápido, 6 consultas em comparação com 22 ou mais, como também funciona para um maior de pessoas. Quatro vezes mais rápida que a terapia comportamental e cem vezes mais rápida que a psicanálise.

Isso pode explicar por que a Hipnoterapia foi certificada mundialmente como uma forma alternativa de conduzir tantas condições:

*Em 1996, a Associação ‘Australian Hypnotherapists’ introduziu um sistema de auto avaliação para profissionais da hipnoterapia da Austrália.

*Em 2002 no Reino Unido, o Departamento de Educação e Habilidades desenvolveu o National Standards Ocupacionais.

*Nos EUA, a regulamentação hipnoterapia e certificação é realizada pela American Council of Hypnotist Examiners (ACHE). O primeiro centro de hipnoterapia licenciado pelo estado foi o Instituto de Formação em Hipnotismo de Los Angeles em 1976.

*A Organização Mundial de Saúde - (OMS) recomenda o uso da hipnose como coadjuvante no tratamento de variedade de doenças físicas, psicossomáticas e como um meio de abreviar os tratamentos psicológicos. A Hipnose Clínica é a intervenção com o maior número de trabalhos científicos publicados, são mais de cem mil artigos, projectos e estudos empíricos, relatando resultados positivos em diversas áreas da saúde (Nash, 2001).

Texto Base: [Gerald Kein Courses on Hypnosys, Templo da Mente Institute, Estudos sobre Mesmer, Charcot Biography, Braid and the hypnosis]

~Dave Bastos













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