Estudo do Livre-Arbítrio como Ilusão na Contemporaneidade



A ilusão do livre arbítrio é um tema mistificado e certas vezes colocado como tabu, a falsa sensação do controle de si e do domínio das situações que rodeiam o humano muita das vezes pode ser vista como conformismo e faz manutenção da 'tranquilidade' e do 'dever' na sociedade. De uma condição Neurológica, passando por entre os ramos da filosofia, até uma análise psicanalítica da sociedade atual é possível analisar as vertentes do que se diz respeito do livre arbítrio. Segue o vídeo introdutório:




Cláudia Feitosa-Santana, aborda nesse vídeo algo interessante, a capacidade que o nosso cérebro tem de decidir ações antes mesmo de conscientemente pensarmos em decidir. Instintos básicos como a necessidade de comer e beber, a busca do prazer e a sobrevivência são caracterizações dessas decisões prévias. O caso do homem com transgressão sexual no vídeo nos mostra como até tipos de comportamentos marginalizados podem ser produzidos de forma involuntária, no caso do vídeo um tumor cancerígeno maligno teve a capacidade de desregular um comportamento social. Ora, mesmo hoje nos tempos modernos se é observável uma falta de entendimento da psique e de seus problemas por parte da maior parte da sociedade, essa deixa vem acompanhada geralmente de violência generalizada e requintes de crueldade. No Brasil o caso geraria comoção tal que o homem não teria a oportunidade de descobrir a anomalia à tempo suficiente de ser tratado, ele seria rechaçado e violentado, certamente agredido. Creio eu que o senso comum em alguns momentos transgridem o limite racional e apelam pro lado emocional, que culminam em uma histeria coletiva exacerbada.

Outra forma de se pensar esse falso livre arbítrio é na política e na democracia. Tem-se a sensação de que nossas escolhas de voto influenciam de alguma forma o que acontece por trás dos grandes trâmites e jogos de poder no legislativo, executivo e no judiciário, quando na verdade o que acontece é: Dentre 207,7 milhões de pessoas no Brasil, escolhem-se um punhado de representantes partidários que deveriam ser competentes para gerir um país. Claramente esse número e a escolha desses mesmos não representam o querer da maioria, porém a falsa sensação de liberdade democrática está presente. Note que, não escolhemos quem vai gerir o país, escolhemos dentre escolhidos quem deverá supostamente exercer esse trabalho. Nos poderes mais baixos que permeiam as câmaras é possível também ver que capital é primordial pra se ganhar votos, a conscientização da escolha ja não é tão importante, pois promessas feitas  (Não necessariamente cumpridas) e a má informação por parte dos que exercem o direito de escolha circundam o voto. 

"Embora seja verdadeiro que a democracia se baseia na escolha, é falso que a escolha se torna sem sentido ou impossível se não houver livre-arbítrio. A ideia de que a escolha desapareceria provém de uma noção excessivamente simplista da alternativa ao livre-arbítrio. Se, numa eleição, uma pessoa puder votar de duas formas, o voto que de fato ocorrer dependerá não apenas de sua história a longo prazo (proveniência, educação, familiar, valores), mas também de eventos imediatamente anteriores à eleição. As campanhas eleitorais existem precisamente por esta razão. Posso mudar de lado em função de um bom discurso, sem o qual eu votaria em outro candidato. Para que uma eleição tenha sentido, as pessoas não precisam ser livres; basta apenas que seu comportamento esteja aberto à influência e persuasão (determinantes ambientais de curto prazo)". (Baum, 1999, p.31) 

Na psicologia é entendido que o conjunto de escolhas no qual o indivíduo detém em seu conjunto fechado é determinado por seus dogmas, costumes, associações, traumas e criação, além é claro de seu aprendizado sobre o objeto a ser escolhido (aprendizado esse que pode ou não seguir a linha de raciocínio do objeto de escolha, ou seja, algo que seja por muito falacioso). Portanto adotar a ideia de que estamos condenados inelutavelmente à liberdade, parece-me uma fascinação provocada pela ilusão que a própria condição de possuir um eu pode despertar, a ilusão de Narciso, que se entusiasma com a própria imagem e em seus labirintos se perde. 

Um outro exemplo é que para Skinner qualquer escolha comportamental está ligada ao ambiente onde o produtor da escolha está contido, essa relação do sujeito e do ambiente é portanto uma relação de interação e não uma relação passiva, o que infere que depende-se do social pra escolher entre coisas e situações.

Para a filosofia Nietzschiana o livre arbítrio é tratado como inexistente pois cada ação que tomamos pode ser premeditada por um conjunto de cálculos probabilísticos e suas incertezas relativas. Sendo um conceito ilusório ele aborda metaforicamente a possibilidade de se alguma vez existisse um ser onisciente e o mundo parasse em um instante ele seria capaz de calcular todas nossas ações, todas maldades e transgressões pois todas elas fazem parte de um grande padrão.

"Contemplando uma cascata, acreditamos ver nas inúmeras ondulações, serpenteares, quebras de ondas, liberdade da vontade e capricho; mas tudo é necessidade, cada movimento pode ser calculado matematicamente. O mesmo acontece com as ações humanas; poder-se-ia calcular antecipadamente cada ação, caso se fosse omnisciente, e, da mesma maneira, cada progresso do conhecimento, cada erro, cada maldade. O homem, agindo ele próprio, tem a ilusão, é verdade, do livre-arbítrio; se por um instante a roda do mundo parasse e houvesse uma inteligência calculadora omnisciente para aproveitar essa pausa, ela poderia continuar a calcular o futuro de cada ser até aos tempos mais distantes e marcar cada rasto por onde essa roda a partir de então passaria. A ilusão sobre si mesmo do homem atuante, a convicção do seu livre-arbítrio, pertence igualmente a esse mecanismo, que é objeto de cálculo. " (Nietzsche - Humano, demasiado Humano)

Conclui-se que o livre arbítrio pode ser considerado como uma forma de delírio que faz com que a humanidade possua mesmo que por pouco tempo a sensação de controle sobre o que se espera, sobre talvez um futuro iminente. A ilusão desse conceito (ou seja, o acreditar), acredita-se que traga bons fins, o fato de poder tomar as próprias decisões leva consequentemente um fardo positivo mas devemos atentarmos-nos ao fato do conceito ser de matriz um tanto quanto falaciosa/metafísica no que diz respeito a liberdade de escolhas, afinal nossas escolhas e até mesmo nós são produtos do nosso passado em adição a expectativas subjetivas de nosso presente. 

~Dave Bastos




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