Resumo Crepúsculo dos Ídolos


Crepúsculo dos Ídolos é uma literatura  certamente desafiante, instiga o leitor em uma jornada da desmistificação de certos conceitos que Nietzsche considera como causadores da decadência da sociedade. Engana-se quem acha que o Nietzsche é suave com suas palavras. A leitura não é fluida e nem um pouco intuitiva causando ao leitor esforçasse com conceitos pesados que variam desde a discussão sobre a razão e o devir, até críticas a natureza socrática e sua personalidade. Nietzsche é daqueles tipos de escritores transcendentais que abordam um conceito em um capítulo, larga-o, e so volta com ele capítulos depois exigindo do leitor níveis aprimorados de erudição e uma excelente memória. No geral foi pra mim uma leitura suave e prazerosa onde Nietzsche me leva a ter com conceitos dignos de obras primas em apenas 10 linhas. Reservei aqui um resumo dos melhores capítulos e sugiro ao leitor que acompanhe o resumo com a obra em mãos.

Máximas
Nessa capítulo introdutório Nietzsche nos leva a frases soltas que por mais curtas que sejam ainda representam a ironia e o sarcasmo ácido do autor.

"Quando é pisado o verme se encaracola. Atitude inteligente. Assim diminui a probabilidade de ser pisado novamente. Na linguagem da Moral: Humildade."

Está claro com essa nota que Nietzsche é contra a hipocrisia por trás da humildade na qual chama de decadência da moral.

"Fala o desiludido.-Procurei por grandes Homens; tudo que sempre encontrei foram imitadores de seus ideais."

"Se a mulher possui apenas virtudes masculinas, fugimos; e se não possui nenhuma virtude masculina, quem foge é ela."

Aqui é claro o machismo do autor que está muito presente por toda obra, contudo deve ser entendido como produto de seu tempo e produto de uma Alemanha decadente comandada pelo Reich.

"Homens póstumos - eu por exemplo - somos menos compreendidos do que os do nosso tempo, mas somos mais ouvidos.Mais exatamente: nunca somos compreendidos- e é daí que advém nossa autoridade."

Em resumo esse capítulo introdutório eu julgo como se fosse um juízo de personalidade do leitor para com o autor, como se fosse um convite de Nietzsche a continuarmos se tivermos coragem de ouvir suas verdades que doem e amedrontam o espírito.

O Problema de Sócrates
Neste, Nietzsche ataca bruscamente Sócrates, disserta de forma fluida e conclusiva sobre sua decadência e sobre sua hipocrisia. Menciona Sócrates como produto falho de uma Grécia que já não era  a mesma coisa, critica subversivamente a moral socrática e não esconde a ojeriza pelo filósofo.

"Todos esses maiores sábios - Não eram só decadentes, como sequer eram sábios de verdade."

Nietzsche relaciona a classe social de Sócrates na antiga Grécia  e sua feiura a incapacidade de ter feito algo que realmente deva ser seguido, o coloca como representação metafórica de monstro e faz parecer Sócrates á um vilão.

"A decadência de Sócrates é sugerida não só pelo confesso desregramento e anarquia dos instintos, mas também pela superfetação de sua capacidade lógica e seu característico sarcasmo atrofiado. Não esqueçamos também as alucinações auditivas que, chamadas de "o daimon de Sócrates", receberam uma interpretação religiosa. Tudo em Sócrates é exagerado,... burlesco."

Nietzsche critica a equação socrática razão = virtude = felicidade, alegando ser a mais bizarra de todas as equações, ele alega que a negação dos instintos é o que traz tristeza, ele critica a necessidade socrática de negar esses instintos humanos e ser tão atado a razão.  Nietzsche põe a dialética socrática como proposta de causar desconfiança, ele julga ser tedioso o processo da dialética socrática e afirma que uma pessoa que não tinha nada como Sócrates era sua única forma de auto-defesa.

"A ironia em Sócrates é uma manifestação de revolta? De melindre plebeu? Na qualidade de oprimido, saboreia ele sua própria ferocidade nas estocadas de seus silogismo? Vinga-se da plateia de nobres que ele fascina?"

Nietzsche afirma que Sócrates apenas fascinava seu público por ter descoberto uma forma de contenda, que seria categorizada como a razão e a Dialética Socrática.

"Há que ser sensato, claro e lúcido a qualquer custo: qualquer concessão aos instintos, ao inconsciente, arrasta pra baixo..."

Aqui novamente Nietzsche critica a necessidade compulsiva de razão por parte de Sócrates.

"Precisar combater os instintos- Essa é a definição de decadência: enquanto a vida é ascendente, felicidade e instinto são a mesma coisa."

Por fim, Nietzsche explica por meio desse capítulo as formas pelas quais Sócrates agia, e o porque da fascinação do público com sua personalidade, deixando bem claro sua anti patia não só pela pessoa Sócrates mas pelos seus ideias que ele julga serem deturpados por uma falsa sensação de segurança com o apelo a Razão.

Moral como Antinatureza



Aqui é onde o autor começa sua Crítica contra o cristianismo e todas suas formas de controle e manipulação, faz alegações factuais pesadas contra a demonização da sexualidade e demonstra certo nojo quanto aos sacerdotes que segundo Nietzsche descobriram a forma de controle de massas e as usam até hoje. Nietzsche coloca o cristianismo como o evangelho dos pobres, dos oprimidos, dos fracassados, dos rejeitados, dos leigos, dos não eruditos, dos deixados pra trás, dos escorraçados pela sociedade, ele alega que por isso que seus seguidores estão vastos, porque em termos seria extremamente fácil ser fracassado e ter um evangelho que exaltasse isso.

"Lá é dito, por exemplo, com a respeito a sexualidade:"se teu olho te escandaliza, arranca-o fora":felizmente nenhum cristão obedece a esse preceito."

"A espiritualização da sensualidade é chamada de amor: isso representa um grande triunfo sobre  cristianismo."

"Quase todo partido compreende que, para continuar a existir é preciso que o partido de oposição não perca totalmente a força; o mesmo vale para o grande político."

Aqui Nietzsche faz uma crítica sarcástica ao novo Reich, que vigorava na Alemanha.

"A moral, tal como foi compreendida até hoje- como foi igualmente formulada por Schopenhauer como negação da vontade de viver, é o próprio instinto de decadência, que se faz imperativo: ela diz: Pereça!- é a condenação pronunciada pelos condenados..."

Nietzsche ainda alega que a maior hipocrisia vigente é exigir que o homem mude ou que o homem deveria ser assim ou assado, afinal, ele defende a pluralidade dos seres e diz que é isso que faz com que o humano seja realmente humano, quando segue seus instintos e almeja a felicidade.

"O Indivíduo visto de qualquer ângulo , é uma parte do destino, mais uma lei, mais uma necessidade para tudo o que há de vir e será. Dizer-lhe: Muda!, significa exigir que tudo se transforme, até mesmo o passado..."

"Nós imoralistas , ao contrário, abrimos nosso coração à todo tipo de entendimento, compreensão e consentimento.Não negamos facilmente; sermos afirmadores é o nosso ponto de honra."

O Erro do livre-arbítrio, nesse subcapítulo temos a crítica de Nietzsche ao cristianismo e a forma dele usar o livre arbítrio como forma de controle, uma das formas de controle mais antigas na sociedade. Ele julga os sacerdotes, homens a frente da organização do clero antigo como sendo responsáveis por essa balbúrdia.

"Toda Psicologia primitiva, a psicologia da Vontade, surge do fato de que seus intérpretes, os sacerdotes a frente das antigas comunidades desejavam criar pra si próprios o direito de punir- ou desejavam criar esse direito para o seu deus..."

"O cristianismo é uma religião para o carrasco."

"Negamos a Deus, negamos a responsabilidade que se origina de Deus: e assim, redimimos o mundo." 

Os "Aperfeiçoadores" da Humanidade



"Minha exigência aos filósofos é bem conhecida: que se coloquem além do bem e do mal- e que deixem pra trás a ilusão do julgamento moral."

Nesse capítulo Nietzsche disserta metaforicamente sobre psicologia de massas, critica a forma com que o humano é fundamentado e estruturado como humano, observa o fato da necessidade de aprimorar a humanidade e usa a história da sociedade Indiana como exemplo pra explicar a estratificação social. Cabe a nós entender nesse capítulo que Nietzsche era defensor da estratificação da sociedade, era um elitista por mérito e julgava ser necessário essa divisão, por isso a justifica com as castas indianas. Ainda no adendo de estratificação, ao mesmo tempo que justifica a sociedade indiana e enaltece sua religião que julga ser realista critica firmemente o cristianismo que tende a pregar a igualdade e a ascensão de classes pelo amor e pela compaixão, chamando o de hipócrita e ridículo.

"Quem sabe o que acontece nos ménageries duvida que os animais sejam "aprimorados" ali. São enfraquecidos, tornados meno perigosos,e por meio dos efeitos depressivos do medo, da dor, dos ferimentos e da fome, convertidos em animais doentios."

Aqui Nietzsche fala metaforicamente do que acontece com o ser humano, onde ele é adestrado a se abster de seus instintos e ser apenas mais um animal doente e racional, a buscar a razão e se tornar depressivo. E fala como o medo pode ser uma ótima forma de controle. Ainda utiliza o adendo do cristianismo e alega que o mesmo usa o medo do inferno e da danação eterna como forma de adestramento dentro da religião. Caro leitor, peço que seja crítico e se pergunte: Não seria mesmo todos esses mitos e lendas do cristianismo sobre inferno, demônios e purgatório uma forma de adestramento?

"Fisiologicamente falando: no combate contra as feras, torná-las doentes pode ser a única maneira de enfraquecê-las. A igreja compreendeu isso: ela adoeceu e enfraqueceu o homem- e, ao fazer isso, quis o mérito de ter "aprimorado"..."

"O cristianismo- a trans valoração de todos os valores arianos, a vitória dos valores do chandala, o evangelho pregado aos pobres e aos humildes, a conjuração geral de todos os oprimidos, os miseráveis, os fracassados, os deserdados, contra a 'raça' - a vingança imortal do chandala como religião de amor..."

Ahh,como a humildade é enaltecida, falo isso leitor porque durante muito tempo fui criticado por apenas acreditar em mim, fui taxado de arrogante, metido, esnobe, todos esses adjetivos que doem a alma apenas por crer no meu potencial. Espero que um dia essas mesmas pessoas tenham acesso ao conhecimento necessário para desmistificar esse conceito. Agora voltando ao assunto, em resumo Nietzsche tira essa capítulo para falar de formas de adestramento e controle de massas e as formas sutis pela qual o cristianismo a fez.

Escaramuças de um Extemporâneo 


Nesse capítulo Nietzsche disserta sobre Vários gostos pessoais do autor, fala sobre grandes nomes da História, filosofia, jornalismo da época e faz suas críticas como Carlyle e George Sand. Mas não só isso bastante, ele dá as "caras" e comenta sobre a moral para psicólogos e artistas. Fala sobre belo e feio e começa a fazer grandes textos sobre Schopenhauer. Na moral para psicólogos Nietzsche dá dicas para que se atentem á forma como trabalham e se portam.

"Não praticar psicologia de segunda! Jamais observar por observar! Isso dá uma falsa perspectiva, uma visão de esguelha, algo forçado e excessivo. Vivenciar por desejar vivenciar-não dá certo."

"Para que haja arte, para que haja atividade, e contemplação estética, uma condição fisiológica e indispensável, o frenesi."

Nietzsche também faz um adendo aos arquitetos, e aqui peço que observem como as profissões vão mudando de importância e de valorização com forme as eras, no século de Nietzsche (XIX - XX) a arquitetura era vista de forma erudita e poucos eram aqueles que podiam exercer a profissão.

"O arquiteto não representa nem o estado dionisíaco nem o apolíneo: aqui é o grande ato de vontade, a vontade capaz de mover montanhas, o frenesi da grande vontade que inspira a arte. Os homens muito poderosos sempre influenciaram os arquitetos; os arquitetos sempre estiveram sobre o fascínio do poder. Em suas edificações devem transparecer o orgulho, o triunfo sobre a gravidade, a vontade de poder. A arquitetura é uma espécime de eloquência do poder pelas formas- que ora persuade, até mesmo lisonjeia, ora limita-se a dar ordens."

Por vezes Nietzsche é contraditório quanto a seu pensar sobre Schopenhauer, certa vez enaltece, na outra espanca com palavras duras de discordância.

"Schopenhauer, o último alemão digno de consideração ( Que constitui um evento europeu tanto quanto Goethe, quanto Hegel, Quanto Heinrich Heine, e não meramente um evento local, um acontecimento "nacional")."

Nietzsche fala da evolução da humanidade e disserta com irreverência, assume que na sociedade não se há mais amor por si próprio, que a auto estima se encontra abalada, que já não cabe a humanos mais o expressar, o sentir, ele julga a humanidade como cansada, como sem forças de reação, como sem vontade de pulsão.

"Já estamos além daquilo que pode ser descrito com o repertório de palavras que temos.Em toda fala há uma nota de desprezo."

Nietzsche Volta a criticar o cristianismo e o compara ao anarquismo, as críticas são diretas e implacáveis, ele assume que ambos são ridículos e não fazem sentido de existir. Ele comenta sobre a decadência dos dois e da Hipocrisia que permeia sobre esse dois sistemas.

"O cristão e o anarquista são ambos decadentes.- Quando o cristão condena, calunia, enlameia "o mundo", o instinto que o move é o mesmo que leva o trabalhador socialista a condenar, caluniar e enlamear a sociedade."

Aqui Nietzsche vem com uma crítica a moral que ele chama da moral da decadência, ele critica a hiper-valorização de sistemas como altruísmo e humildade (novamente), trata-os como nocivos, como limitadores da pulsão de transcendência e da evolução, o ser humano por instinto tende a se proteger e a pensar em si primeiro, e é isso que movimenta a vida, pra Nietzsche o fato de existirem realmente pessoas altruístas culmina na existência de pessoas miseráveis, é uma relação inversamente proporcional de interdependência. Nietzsche critica também os médicos e sua compaixão excessiva pelo enfermo que se vê defronte a morte e defende a prática de um certo nojo por parte do médico com seu paciente nessas condições. Nietzsche vem também defensor da morte consentida, ele alega que quando a pessoa está com uma doença terminal ou prestes a sucumbir ela deve ter o direito e não só isso como também deveria almejar morrer de forma honrosa e com uma despedida equivalente aos anos em vida afim de não ser pego de surpresa e ser-lhe retirado a sanidade que ainda resta.

"Quando começa a faltar egoísmo, falta o melhor. Escolher instintivamente o que é nocivo pra si, sentir-se atraído por motivos "desinteressados", temos ai, praticamente a fórmula da decadência."

"O homem está acabado quando se torna altruísta. Em vez de dizer ingenuamente "eu não valho mais nada", a mentira moral expressa, na boca do decadente:"Nada vale coisa alguma, a vida não vale nada...""

"O enfermo é um parasito da sociedade. Em certo estado e indecente continuar vivendo por mais tempo. continuar vegetando numa dependência covarde de médicos e de artifícios terapêuticos, depois que o sentido da vida, o direito à vida se acabou, deveria inspirar a sociedade um profundo desprezo." 

"A morte escolhida livremente, a morte no tempo certo, com lucidez e alegria, entre filhos e testemunhas: quando uma verdadeira despedida ainda é possível, em que aquele que se despede ainda está ali; assim como uma apreciação real do que foi alcançado e do que foi almejado, um balanço da vida - em contraposição à lamentável e repulsiva comédia que o cristianismo fez da hora da morte."

"Jamais se deve esquecer que o cristianismo se aproveita da fraqueza do moribundo para violentar-lhe a consciência."

"Por fim um conselho para os caros pessimistas e outros decadentes. Não está em nossas mãos impedir nosso nascimento: mas esse erro - pois, as vezes, é um erro, - pode ser corrigido."

Nietzsche ainda aborda pra ele o conceito de gênio, que é caracterizado como produto de seu tempo, produto do acúmulo de informações e de conhecimento de seu tempo, acrescidos a uma violenta vontade de pulsão, um abismo de falta de comodismo, coragem e erudição fora da média. Nietzsche ainda declara seu sentimento de enaltecimento á Goethe e o caracteriza como melhor coisa que a Alemanha produziu.

"Goethe é o ultimo Alemão merecedor do meu respeito: ele teria sentido três coisas que eu mesmo sinto- também nos entendemos quando á 'cruz'."

O que Devo aos Antigos


Aqui permeia finalizar essa obra nesse capítulo onde sucinta as origens de certos tipos de pensamento que lhe ocorreram e enaltece Tucídides [Historiador Grego, Atenas 460 a.C - id., 400 a.C]. Ainda critica Platão e  seus delírios.

"Sou um completo cético com relação a Platão, e nunca fui capaz de aderir a costumeira admiração erudita pelo Platão artista."

"Platão é enfadonho."

"Platão não passa de um covarde perante a realidade - consequentemente, ele se refugia no ideal."

"Foi o cristianismo, com seu franco ressentimento contra a vida, que fez da sexualidade uma coisa impura: enxovalhou a origem, o fato essencial de nossa vida..."

E por fim Nietzsche termina...

"O nascimento da tragédia foi minha primeira trans valoração de todos os valores: a essa altura, retorno ao terreno no qual cresce a minha intenção, a minha sabedoria - eu, o derradeiro discípulo do filósofo Dionísio - eu, o mestre do eterno retorno..."

E assim termina a obra de Friedrich Wilhelm Nietzsche que envolve, que dói os sentidos, que aflora o nervosismo, que provoca ansiedade que acima de tudo converge para a erudição.

~Dave Bastos

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